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A forma segue o comportamento

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Nos últimos meses juntamos forças aqui no Studio Arthur Casas para exercício de futurologia: como será a casa do amanhã? A maior parte dos projetos residenciais que realizamos seguem linhas bastante consolidadas e acreditamos que essa seria oportunidade interessante para pesquisarmos sobre conceitos que incluíssem os tradicionais temas da sustentabilidade: energias renováveis, eficácia energética, sistemas pré-fabricados e autossuficiência.

Poucas tarefas são mais pretensiosas que aquelas de tentar prever o futuro. Tecnologias mudam rapidamente, conforme a economia e os interesses. O que consideramos futuro em nosso país pode ser tomado como ultrapassado em outros. Complicado prever os costumes das pessoas e como elas podem se habituar aos novos usos de espaços. Quais elementos trarão resistência? Quais serão incorporados com facilidade?

Queremos trazer para a arquitetura residencial mais que elementos que possibilitem felicidade, saúde e praticidade à vida de seus moradores? Os japoneses vivem cercados por tecnologia e praticidade, com seus hotéis-capsula e supermercados na palma da mão, nem por isso estariam entre os mais felizes do mundo. Já boa parte das pesquisas mostra que países latinos, com economias frágeis, possuem nível de felicidade elevado.

Os caminhos são vários: alguns buscam a autoconstrução com materiais simples, outros o uso extremo da tecnologia para reutilizar espaços exíguos. O meio-termo talvez seja a melhor opção.

Entretanto temos que admitir que o que constituirá de fato a arquitetura residencial do futuro permanecerá uma grande incógnita. A arquitetura muda junto com novos modelos de cozinhas, banheiros, lavanderias, salas de estar, dormitórios e todos os aparelhos que vêm junto. Tentamos sempre minimizar espaços subutilizados ao ampliar e conectar ambientes e expandir as possibilidades de atividades. É sempre bom ter em mente a arquitetura moderna, que falhou ao acreditar que seria a arquitetura a força capaz de moldar o comportamento. Hoje, constatamos o contrário: é preciso entender como o comportamento moldará a arquitetura.

Seguramente, a relação das pessoas com suas casas será transformada por distâncias cada vez mais curtas, maior portabilidade, tecnologias acessíveis, conectividade constante e tendências de comportamento mutantes que irão reinventar a construção da ideia de casa.

Esse exercício é uma constante na arquitetura, e optamos por descrever alguns exemplos clássicos que têm guiado nossas ideias.

Casa do futuro (Foto: Divulgação)

SCHRODER HOUSE – 1924, Utrecht, Holanda, Gerrit Rietveld
A cliente solicitou uma casa livre de associações, com conexões entre interior e exterior. Áreas intimas ou subdivididas encontram-se no térreo. Todos os cômodos têm acesso independente ao exterior e à rua, já que a casa não tem muros.

A área de convívio é organizada no pavimento superior, totalmente integrada, e painéis deslizantes permitem o uso separado dos espaços. O único ambiente fechado é o lavabo. Cada ambiente propõem uma experiência diferente que é refletida na fachada. Cada volume tem seu próprio plano e cor distinta. As funções terminam por criar a estética da arquitetura.

Casa do futuro (Foto: Divulgação)

GLASS HOUSE – 1949, New Haven, EUA, Philip Johnson
A casa do arquiteto, projetada para próprio uso, tem fortes linhas modernistas porém se assemelha a conceitos da arquitetura contemporânea, no que diz respeito a programa e forma. Há uso intenso da luz natural pelos panos de vidro, que eliminam as barreiras visuais do interior com o exterior. O único volume fechado é o do banheiro e da lareira.

Os mobiliários compõe as divisões entre os ambientes. Um balcão com equipamentos serve de cozinha e sala de jantar. Um armário faz a divisão do quarto com a área social.

Casa do futuro (Foto: Divulgação)
Casa do futuro (Foto: Divulgação)

VILLA DALL' AVA  1991, Paris, França, Rem Koolhaas
A casa é dividida em três volumes e áreas no próprio terreno. O primeiro volume abriga áreas de serviço, organizadas como uma continuação da topografia do terreno. A área social fica no andar intermediário, com ambientes fluidos, abertos ao exterior, quase sem mobiliário para ter usos flexíveis. Cortinas fazem a subdivisão dos ambientes, quando necessário. O andar superior é ocupado pelas áreas íntimas, em volumetria visualmente instável, criando efeito inusitado. Os dormitórios ficam em lados opostos, em níveis distintos, com acessos individuais. A cobertura é ocupada pela raia da piscina, com vista para a torre Eiffel no horizonte.

Casa do futuro (Foto: Divulgação)

MORIYAMA HOUSE – 2005, Tóquio, Ryue Nishizawa
O arquiteto propõe neste projeto uma nova proposta de viver em comunidade de forma privada. O projeto consiste em módulos de uso flexível que podem ser utilizados por um mesmo morador ou diferentes vizinhos.

O cliente ocupa 4 módulos e os demais são alugados. Porém esta lógica pode ser modificada e a ocupação dos módulos pode ter uso variado.

O limite entre o que é privado e publico é líquido, talvez seja algo que se dê naturalmente dependendo da apropriação do momento. Entre os volumes existe uma faixa de jardim que faz a conexão entre eles e com a rua.

Casa do futuro (Foto: Divulgação)

ALL I OWN HOUSE – 2014, Madri, Espanha, PKMN arquitectures
A questão de acúmulo de objeto, apego e uso real uso dos mesmos inspirou os arquitetos a criar um ambiente em que a cliente pudesse expor sua personalidade através dos seus espaços. A visão dos arquitetos é a de que objetos pessoais tornam-se parte da nossa definição como indivíduos, ou ao menos nós mesmos acreditamos que as peças que colocamos em nossa casa refletem nossa personalidade.

Os módulos móveis permitem que a cliente torne-se sua própria interior designer e que seus objetos pessoais a acompanhem no seu dia-a-dia. A casa pode ser rearranjada conforme usos específicos por um sistema deslizante simples e marcenaria feita sob medida.


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