Não tem como negar: com suas arquiteturas espetaculares e uma peregrinação de visitantes em busca de conhecimento, museus se transformaram em espécies de igrejas e templos do mundo contemporâneo. Segunda maior metrópole e terceira maior população da França, Lyon certamente verá o fluxo de turistas aumentar consideravelmente por conta da abertura mês passado do Musée des Confluences. A localização deste museu de 238 mil m² é mais do que especial: a ponta da península criada artificialmente, no início do século 20, no exato ponto onde os rios Ródano e Saône se confluem - daí vem, aliás, o seu nome.
A linha de horizonte da estação de trem Lyon-Perrache mudou consideravelmente com a sua chegada. De longe, o prédio todo de aço – mais de 6.600 toneladas! – parece uma nave espacial que aterrissou na cidade. Conforme o caminho que se pega até o museu, a visão da sua arquitetura varia consideravelmente. O estilo desconstrutivista do prédio, um pouco hostil quando se chega perto, foi assinado pela Coop Himmelb(l)au, agência austríaca que deslanchou na mesma época outros starchitects como Zaha Hadid, Daniel Libeskind e Frank Gehry.
A sensação quando adentra-se no hall de entrada, todo de vidro e aço, é de estar dentro de um cristal. “A inspiração veio da própria turbulência do choque entre os dois cursos de água”, explicou Wolf D. Prix, chefe executivo da Coop Himmelb(l)au. A estrutura, análoga daquela usada na construção de pontes, sustenta sozinha os espaços de exposição, acessíveis através de escada rolante e uma rampa espiral. De fora, o resto do edifício lembra uma nuvem de aço facetada e angular – segundo D. Prix são essas “novas geometrias” que dão personalidade a uma construção.
A complexidade da construção refletiu tanto no prazo (o atraso foi de quase 14 anos!) quanto no orçamento (dos 60 milhões previsto, o budget passou para 253 milhões de euros). Apesar de algumas críticas quanto a isto, o Musée des Confluences também foi pensado para dar uma segunda vida a um bairro até então abandonado em Lyon. Daqui a alguns meses, deve ficar pronta a segunda parte do projeto, que também é urbanístico. Quando os visitantes atravessam o “cristal” do museu, chegam num passeio público e num parque com ciclovias de frente para os rios onde devem acontecer mil e uma atividades.
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A museologia do espaço também foi pensada para atrair o maior número de pessoas. Sem ser dividida por áreas, como em instituições mais tradicionais com salas divididas em ciências, arte, etnografia e antropologia, o museu optou por misturar todas as suas disciplinas. “Preferimos organizar em torno de questões universais: de onde viemos, o que acontece depois da morte, qual é o lugar do homem na biodiversidade”, contou o diretor científico Bruno Jacomy. Nenhum lugar melhor para pensar em assuntos tão existenciais como a vista para a confluência dos dois rios do museu.