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Na Holanda, feira de arte reúne raridades

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TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

Esqueça as festas badaladas e a enxurrada de celebridades perambulando pelos corredores da Art Basel. Maior e mais reputada feira de antiquários do mundo, a TEFAF não brinca em serviço. Não é à toa que só colecionadores de peso e diretores dos maiores museus do mundo batem ponto lá todo ano. E não é só por conta da qualidade das obras; afinal, cada uma das 280 galerias ali expostas esperam os dez dias deste salão em Maastricht, na Holanda, para exibir seus objetos mais importantes.

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

Como todo ano, 48 horas antes do preview para convidados, 175 profissionais fazem uma ronda pelos estandes para autenticar e verificar se a procedência dos objetos é sólida o suficiente – este processo é, aliás, conhecido como o mais rigoroso entre as feiras de arte. Quando se conversa com os galeristas é normal escutá-los descrevendo durante horas a lista de antigos proprietários. Outro aspecto que dá muita credibilidade ao evento é a publicação de uma relatório anual do mercado. “Fico contente em dividir com vocês boas noticias”, disse a doutora Clare McAndrews, fundadora da Art Economics e autora do relatório. "Em 2014, o mercado global de arte totalizou nada menos que 51 milhões de euros, um aumento de 7% em relação ao ano anterior."

Um evento divertidíssimo, a TEFAF reúne os mais diversos microcosmos da arte -  desde galerias especializadas em armaduras medievais até outras de estampas japonesas e relógios antigos. Impressionante como se aprende aqui. Você descobre coisas que nem sabia que existiam! É o caso da galeria Aronson Antiquairs, especializada nas famosas cerâmicas de tom azul com verniz branco de Delft, produzidas especialmente entre o final do século 17 e a primeira metade do 18. É raro de se encontrar no mercado o que é chamado de Black Delft (peças com esmalte negro) e, mais ainda, Brown Delft (peças com esmalte marrom), como o bule que estava à venda este ano por 58 mil euros. “Nos anos 1700, os ceramistas de Delft tentaram imitar os móveis laqueados que chegavam do Extremo Oriente usando esmaltes pretos e marrons. Dos últimos só existem entre 35 e 40 objetos no mundo inteiro”, explicou à Casa Vogue Robert D. Aronson, diretor da galeria.

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

“Aqui há liberdade para qualquer cultura ou período histórico”, conta o galerista Paul Kasmin, que trouxe desde obras de Simon Hantaï, Robert Motherwell e Brancusi, até um fragmento de sarcófago romano do século 3 d.C. e um lustre de Claude Lalanne. Este ano ele decidiu fazer algo comum entre os expositores da TEFAF: convidou um designer para decorar todo o seu estande. As cadeiras, mesas e até o divertido papel de parede que o suíço Mattia Benetti criou especialmente para o evento também estavam à venda, seguindo uma tendência na qual foi pioneiro o colecionador, galerista e interior designer belga Axel Vervoordt.

Um dos estandes mais cheios era o da galeria francesa Downtown, especializada em Jean Prouvé, Charlotte Perriand e outros designers dos anos 1950 raros de achar no mercado. Dava para entender o motivo do frisson: o dono da galeria, François Laffanour, percorreu os Estados Unidos com o colecionador Philippe Ségalot para reconstituir o interior de uma casa shaker, divisão protestante que teve seu ápice no meio do século 19. Em muitos aspectos, o estilo shaker foi precursor do design modernista do século 20.

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

Se para figuras como Prouvé, o design tinha preocupação social importante, os shakers guiavam suas criações por princípios religiosos – para ambos, a forma estava à mercê da função. A magnífica (e longuíssima!) mesa de jantar era assim pois todos os dias as pessoas faziam suas refeições juntas, seguindo os princípios comunitários do grupo. As cadeiras tinham um detalhe inteligente: mesmo que o chão fosse irregular, os assentos sempre ficavam estáveis porque seus pés posteriores têm peças pivotantes que se adaptam ao solo.

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

Já a Demisch Damant se destacou com um par de poltronas e uma estante que Pierre Paulin fez para, respectivamente, os presidentes François Mitterand e Georges Pompidou. Por terem sido produzidas pelo Mobilier National, que é responsável pelos interiores de todos os prédios do governo, entre eles o palácio do Elysée, essas peças são raríssimas. Mas o que eu mais gostei aqui foi a tapeçaria monumental da artista americana Sheila Hicks, intitulada Le Palmier. Além de explorar a matéria têxtil usando diversas técnicas de tecelagem em algodão, seda, lã e linho, Hicks é uma colorista de mão cheia. Outra edição desta obra esta na coleção do Metropolitan, em Nova York.

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

Yves Macaux, que domina sobretudo peças do movimento secessionista de Viena, fez uma joia de exposição apenas com criações de Gustave Serrurier-Bovy, uma das principais figuras belgas do movimento art nouveau. Adorei a estante 360° de rodízios e um lustre de 1904-05. Já a dinamarquesa Dansk Mobelkunst trouxe um dos dois exemplares de um sofá chiquérrimo e mais atual impossível, de 1942, que o designer e arquiteto Vilhelm Lauritzen fez para a sede do Danish Broadcasting Cooperation, também assinado por ele.

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

Fiquei encantada pelo retrato de uma jovem mulher egípcia, do início do século 2 d.C., apresentada no estande de Charles Ede. Difícil de achar uma pintura de têmpera sobre madeira fininha, miraculosamente num estado ótimo (madeira se curva com o tempo). Pintado enquanto a modelo ainda estava viva, o quadro serviu de máscara mortuária, vide o formato em que se encontra. A obra é ótima para se ter uma ideia das joias e moda do período romano no Egito. O preço para o old master provavelmente mais antigo do pedaço? A bagatela de 560 mil euros!

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

Fiquei horas me deleitando com as porcelanas que a China exportava para as cortes europeias, particularmente para a portuguesa. A galeria do Jorge Welsh, especializada no assunto, tinha dois casais de nodding-heads, esculturas que balançam a cabeça, do período Qianlong. O preço de cada casal está na casa dos seis dígitos, pela raridade de se encontrar este tipo de escultura em porcelana. Adorei as terrinas em forma de cabeça de javali e o duo de ratinhos – não se assuste, este animal é símbolo de abundância e riqueza na China.

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

 

TEFAF (Foto: Isabel Junqueira)

Terminei o longo dia na TEFAF num dos meus antiquários favoritos: A La Vieille Russie, especializado em artes decorativas russas. Gamei num conjunto de 12 pares de talheres de sobremesa em prata dourada, executadas em 1890 por Fabergé, não se sabe exatamente para quem. Como não amar as pontas arredondada das facas, inspiradas na forma peculiar do kozuka e kogatana, pequenas facas japonesas usadas tanto como arma quanto na vida cotidiana?

* A jornalista viajou a convite da feira.


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