Golf resorts normalmente apresentam arquitetura tradicional, interessados em cultivar uma camada da população com gosto mais conservador. Mas quando o arquiteto Alberto Alfonso foi convidado para projetar um novo hotel para um desses resorts ele resolveu dar uma sacudida nesse conceito. Com experiência em projetos em Central Florida, onde mantém seu escritório, Alberto desenvolveu o resort Streamsong fiel a sua interpretação de modernismo, que passa por influências como Carlo Scarpa, o modernismo brasileiro, Le Corbusier e Eileen Gray. Tudo filtrado por uma refinada sensibilidade de arquiteto e artista. Ele é também um talentoso pintor, com várias exposições já feitas.
Vizinho a um lago natural, o hotel está situado na área de uma mina de fosfato que foi resgatada através de laborioso projeto de recuperação ambiental. Com um contexto geológico tão rico em história, o arquiteto decidiu que o design deveria conectar e celebrar os elementos: a terra, a água e o ar.
"O projeto nasceu de uma resposta ao clima e paisagem da Flórida. O esquema vertical faz referência, metaforicamente, as águas, a terra, flora e ao céu. Cada camada fazendo alusão aos respectivos elementos dessa metáfora", explica Alberto.
O edifício usou materiais que refletissem uma conexão com o solo, tanto funcional como simbólica, com bastante uso de pedra e concreto aparente. Alberto suspendeu o edifício em colunas de concreto esculturais, permitindo uma ventilação cruzada no térreo, que ajuda no isolamento térmico dos andares acima. Tomou-se um cuidado especial também com a orientação, para evitar o aquecimento térmico excessivo. E onde a vista desejada comprometia a orientação correta, usou e abusou dos brise soleils, executados em lindas peças de madeira.
As fachadas, angulares de um lado, levemente curvas do outro, receberam paginação da esquadria a la Mondrian, em composições enriquecidas pela verticalidade dos brises e os vazios fechados das cortinas.
Para a área social do lobby, que com os grandes panos de vidro parece flutuar sobre as águas do lago, Alberto (que projetou desde a arquitetura, aos interiores e até os uniformes dos funcionários) usou um piso de madeira reciclada e escolheu como mobiliário as cadeiras LC-2 da Cassina, por Le Corbusier, especificadas com um couro ocre claro e metal com acabamento marrom, criando um lindo contraste com a esquadria em tom ferrugem.
Por todo o espaço, pequenos detalhes mostram o cuidado do profissional com o projeto. Um estudioso do trabalho do icônico arquiteto Italiano Carlo Scarpa, ele mostra que aprendeu com o mestre o respeito pela textura dos materiais, seja na releitura moderna da técnica milenar dos mosaicos ou no tratamento das madeiras e no acabamento de paredes e concreto.
Para os quartos, o arquiteto desenhou embutidos com um look ultramoderno e com detalhes criativos não encontrados em projetos desse tipo, como engenhosas estantes para livros e acabamentos especiais para o teto.
A piscina de borda infinita parece fluir direto para as águas do lago e é cercada de um paisagismo singelo. Na cobertura ele idealizou um bar, protegido por uma tela metálica e com direito até a abertura circular no teto (similar ao oculus do Pantheon romano) para permitir um toque de luz natural, e no terraço criou um lounge com vistas panorâmicas da região.
