Durante muitos anos, os parques têm desempenhado um papel fundamental para o êxito das cidades. Os primeiros parques formais, como o Central Park, em Nova York, foram criados no séc. XIX, com o intuito de serem belos e calmos, para contrastarem com a realidade densa e suja da vida urbana da era industrial.
Na Europa, os parques públicos surgiram até um pouco antes, ocupando espaços que haviam sido campos de caça ou destinados a feiras. O Hyde Park, em Londres, por exemplo, era um campo de caça que, com o passar dos anos e com as mudanças de gestão na cidade, aos poucos foi abrindo as portas ao público geral.
Gradualmente, os espaços públicos exteriores e os seus benefícios foram evoluindo como elementos importantes na estratégia urbana. Os planos de Haussmann em Paris e de Cerdá, em Barcelona, também de meados do séc. XIX, já levavam em conta a criação de parques e espaços públicos. Incluíam quase tudo o que não fosse um edifício como: ruas, largos, praças, faixas de verde e eram planejados como parte integrante de um grande sistema urbanístico.
Segundo Fred Kent[1], um parque e a sua área envolvente não precisam existir apenas para nos relacionarmos com a natureza, podem e devem também ser espaços para trocas culturais e sociais. Um parque, para ser vivo, deve ter na sua programação várias atividades: mercados e feiras que lhe conferem um dinamismo comercial, incentivar a atividade física como corrida, caminhadas e yoga, proporcionar atividades culturais como cinema ao ar livre, exposições de arte e outros eventos da comunidade. No fundo, dinamizar a socialização entre as pessoas é o mais importante.
O nosso Parque Ibirapuera aqui em São Paulo é um bom exemplo do que pode ser um bom parque urbano. Ele é ponto de encontro por excelência. Além dos museus que atraem a parte da população erudita, conta com uma boa estrutura para práticas de esportes, proporciona uma extensa lista de atividades, o que atrai pessoas dos mais diversos perfis, criando um ciclo positivo na rotina do parque.
Kent defende que a maioria dos parques urbanos tem poucas atividades fora do tema do lazer e, por isso, não atraem pessoas tais como idosos, adolescentes e os que procuram apenas um lugar para caminhar ou sentar dentro da sua rotina diária. A maioria das vezes nem existe uma calçada, um lugar com sombra, nem mesmo um pequeno comércio onde comprar água ou um lanche. O maior problema de isso acontecer é que quando há poucos motivos para as pessoas irem ao parque, menos pessoas o utilizam e, portanto, deixa de ser valorizado.
Nos anos 70, em Nova York, o Union Square Park tornou-se um lugar perigoso. Na sua renovação foram usadas estratégias que, entre outras, incluíam a realização semanal de uma feira de produtos naturais. Isso atraiu a comunidade, o mercado propiciou oportunidades para a população vizinha ser empreendedora, fazendo parte ativa da feira, e possibilitou a ligação às fazendas dos arredores da cidade. O parque foi renovado e hoje é um dos principais pontos de visita em Manhatan.
Aqui em São Paulo, temos um bom exemplo de um parque em puro momento de transformação, o Parque da Luz, mais conhecido como Jardim da Luz, no centro de São Paulo. Ele já foi, durante grande parte do séc. XX, um parque perigoso, lugar de tráfico de drogas e prostituição e, hoje, começa a ser um parque legal. O espaço tem uma programação cultural e desportiva planejada, equipamentos de ginástica, pista de cooper, o maior acervo de escultura e estatuária ao ar livre no estado, um inusitado aquário subterrâneo e, de tempos em tempos, recebe uma feira na entrada do jardim. Enfim, é um bom lugar para visitar ou revisitar.
Gehl, um reconhecido planejador e estratega urbano, sublinha a importância de uma transformação gradual no desenvolvimento urbano, com o objetivo de fazer mudanças que sejam sustentáveis, no sentido de dar tempo às pessoas de se ajustarem às mudanças físicas da cidade.
Ao integrar os parques na vida cultural dos bairros, ao atribuir responsabilidades de manutenção às pessoas, ao permitir-lhes criar novos programas e, em alguns casos, até permitir que eles desenhem partes do parque, verifica-se uma renovação da área e seu entorno e mudanças positivas no comportamento da comunidade, muitas vezes em lugares que se acreditava ser impossível.
Atualmente, algumas cidades estão se apercebendo como os parques podem contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de vida urbana. Como vimos, em São Paulo, já se sente um vento de mudança nesse sentido.
Se os parques urbanos evoluírem da sua atual função, que é primariamente de lazer, e adotarem um novo papel como catalisadores de desenvolvimento e melhoramento da comunidade, tornar-se-ão um componente essencial na transformação e melhoria das nossas cidades.
[1] KENT, Fred - The Social Life of Small Urban Spaces, 1980
[2] GEHL, Jan - Cities for People, 2010, Island Press.