
Ícone do telejornalismo brasileiro, ela nasceu em Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Filha de dona de casa e alfaiate, Glória Maria Matta da Silva estudou inglês, francês e latim em colégios públicos estaduais. Formou-se em jornalismo na PUC-RJ, foi telefonista da Embratel e entrou na TV Globo em 1971. Foi a primeira repórter a aparecer numa transmissão ao vivo e a cores do Jornal Nacional. Em 1986, entrou para a equipe do Fantástico e ocupou o posto de apresentadora do programa de 1998 a 2007. Nesse período, viajou por mais de cem países, entrevistou grandes celebridades (Michael Jackson, Madonna, Harrison Ford, Nicole Kidman, entre outros) e cobriu eventos históricos, como os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998). Tirou dois anos de licença e adotou duas meninas, as irmãs Maria e Laura. Desde 2010, faz parte da equipe do Globo Repórter, produzindo grandes reportagens de viagem. Aqui, ela revela seu universo de gostos, prazeres e sonhos.

Você acredita em casa ideal?
Acho que cada um tem a sua e depende do temperamento, do gosto, do tipo de trabalho que a pessoa tem. A minha casa é bem próxima do meu ideal.
Onde você mora?
Moro num apartamento em Ipanema, de frente para a praia [ela morou no Leblon durante 25 anos e se mudou há um ano]. É tudo muito amplo, muito claro, bem dividido. Eu gosto de coisa bem leve, clean, mas não aquela coisa chata, entendeu?! Minha casa tem a base toda branca, mas também tem muita cor. Então, é uma casa que me relaxa, que me dá tranquilidade. Para mim é perfeita.
De qual ambiente você gosta mais?
Do quarto das minhas filhas, porque tem a energia delas. E energia de criança é sempre muito boa. Elas têm um espaço diferente. São dois quartos separados e interligados por uma área comum. Ali tem a vida, a alma e a energia delas. Então, é um lugar onde me sinto muito bem. Quando tenho de tomar decisões, vou para lá e fico quietinha na cama de uma das duas. Não passo um dia sem ficar um pouco no quarto das meninas.

Você tem algum objeto de desejo?
Um tapete de seda maravilhoso que encontrei na Turquia. Fiz quatro viagens para lá, olhava o tapete e voltava. Na quarta vez, comprei. Até hoje, ele está na minha parede, tipo um quadro. Foi uma coisa que desejei por muito tempo.
Qual foi a compra mais inusitada que você já fez?
Um narguilé gigante de cristal que trouxe também da Turquia. É lindo, mas foi um trambolho para trazer, uma compra meio elefante branco.
Se você pudesse ser um objeto para a casa, qual seria?
A cama. [gargalhadas] Porque fico toda relaxada, tranquila. É um lugar que me dá paz. Ela seria a maior possível, sem dossel, com o melhor colchão do mundo e muitas almofadas.
Qual foi seu último achado de décor?
Recentemente, comprei cortinas, pelas quais tenho paixão, e toalhas de mesa numa feirinha de Saint-Tropez.

O que não pode faltar num projeto residencial?
A minha alma, a minha vida, os meus detalhes, as minhas características. A casa tem que ser livre como eu, com uma cara de mundo. Não gosto de muita parede, nada que tire minha liberdade. O que não pode faltar é espaço para mim. Acho que decoração é detalhe. A casa tem que ser pensada para mim. O resto vem depois. O espaço é meu. Não gosto de perder espaço para móvel: ele tem que estar ali para me servir e não para servir a casa. Não aguento casa que tem um monte de coisa bonita mas que você não pode chegar perto, não pode ocupar, não pode se mexer. Você tem que ficar olhando, de longe, como se estivesse numa galeria de arte. Eu quero casa e não galeria.
Quem você considera um ícone da arquitetura?
Sig Bergamin. Eu o conheci fazendo projetos fora do Brasil e, para mim, ele é o melhor do mundo. Acho ele o máximo!
Que peça de design é atemporal?
Aquela cadeira do Sergio Rodrigues [poltrona Mole], em que o tempo passa e ela continua nos trazendo conforto numa boa.
Na hora de presentear ou receber, quais são suas flores preferidas?
Ah, orquídeas sempre!
Em que cenário você viveria?
Primeiro, na minha casa. Se não fosse nela, seria na casa de uns amigos na Córsega, que é a coisa mais bonita que já vi. Viveria lá tranquilamente.

Um acontecimento que revolucionou sua vida.
Quando tive as minhas filhas, foi a maior revolução da minha vida. Era uma coisa que não imaginava e que aconteceu.
Você já viajou muito, mas que lugar é inesquecível?
A Índia. Já fui seis vezes e é sempre uma referência. É um país que me muda e me melhora sempre. Peguei dois anos sabáticos na TV Globo e fui para lá fazer trabalho voluntário. Também fiz na Nigéria e, depois, na Bahia, onde conheci minhas filhas.
Sugira uma leitura e uma obra de arte transformadoras.
O livro O Jogo das Contas de Vidro, do Hermann Hesse, e o balé O Lago dos Cisnes, dançado pelo Kirov [com o fim da União Soviética, essa companhia passou a se chamar Mariinsky Ballet].
De qual artista gostaria de ganhar ou comprar uma obra?
Ah, gostaria de um Renoir. [risos]

Filmes para assistir inúmeras vezes.
A Noviça Rebelde, Sete Noivas para Sete Irmãos e Don Juan DeMarco, com Marlon Brando.
Que músicas não saem da sua playlist?
A Voz do Morro! [De Cartola e começa a cantar] Eu sou o samba, a voz do morro sou eu mesmo sim senhor... Isso não sai da minha playlist. E Speak Low [de Kurt Weill], principalmente cantada pela Billie Holiday ou Marisa Monte.
Quais são suas fontes de inspiração?
Na dança, por exemplo, Maya Plisetskaya. A partir do momento em que vi essa mulher dançar, realmente foi uma transformação na minha vida. A filosofia dos ciganos que vivem pela liberdade. E a natureza, quando olho para o céu, o mar, as estrelas, os fiordes, os vulcões. O vulcão é uma coisa que me inspira profundamente. Você vê aquela coisa soltando fogo, o tempo inteiro, vivo. Vulcão é sinônimo de vida!

O que não pode faltar na sua agenda cultural?
Música e balé. São duas coisas que não vivo sem.
Um presente do qual vai se lembrar sempre?
As minhas filhas.
Revele algumas imagens imortalizadas na sua memória.
A primeira posse do Obama. Ver uma vitória ao vivo, de perto, do Muhammad Ali, na época em que ainda era Cassius Clay. E ter assistido a Barbara Hendricks, uma cantora lírica linda, se apresentando em Paris.
Você gosta de cozinhar?
Acho um barato cozinhar, mas não tenho muita paciência. Não sou uma dona de casa perfeita, aquela que vai para a cozinha. Mas adoro preparar uma massa, faço uma omelete como ninguém e sou especialista em batata rosti. Gosto de comida japonesa, mineira e baiana. Sou um contraste, uma revolução ambulante.

O que é luxo nos dias de hoje?
É poder ficar sozinha num canto, em paz, sem fazer nada. Na Córsega, por exemplo. [risos] Isso é o maior luxo que eu poderia ter na vida hoje.
Se pudesse voltar à vida como outra pessoa, quem seria?
A Glória Maria. [risos] Ah, se voltar dez vezes, dez vezes eu queria ser eu. Só abriria uma exceção, em alguma encarnação, para voltar como Bob Marley.
Você curte redes sociais? O que lhe interessa compartilhar?
Só Instagram. [@gloriamariareal. No momento, ela tem mais de 300 mil seguidores] Gosto de compartilhar minhas viagens. Fotos de lugares e pessoas.
Para finalizar, revele o melhor do Brasil e do mundo.
No Brasil, a música. O que realmente gosto é de música popular brasileira, bossa nova, samba. Acho que isso é que faz toda a diferença. E, no mundo, a diversidade no sexo, na cor, na alma, na filosofia. Acho que a diversidade é o que move o mundo.
