Não tem uma vez que Odile Soudant veja imagens do seu trabalho e não fique frustrada. Até hoje, nenhum fotógrafo conseguiu captar por completo a sutileza da iluminação que esta francesa de 47 anos vem fazendo em casas, hotéis, espaços públicos e até obras de arte monumentais, como Leviathan, de Anish Kapoor, exposto em 2011 sob a nave do Grand Palais, em Paris. “Eu não uso a luz de maneira forte e violenta. Gosto quando fica o mais natural possível”, diz. Ultimamente, o projeto que vem tomando a maior parte do tempo desta lighting designer é o de uma ponte transformável em praça pública, em Bordeaux, que leva a assinatura de Rem Koolhaas e deve ficar pronta daqui a quatro anos. Não tem sido fácil convencer as autoridades de que a via dos carros não precisa ter a mesma luz intensa de uma estrada. “Estou buscando um efeito mais humano”, conta Odile, que pretende usar pintura fotoluminescente na área dos pedestres.
Nem é preciso dizer que raramente ela usa neon ou LED, preferindo lâmpadas halógenas, que esconde imperativamente. “Nada mais horrível do que spots visíveis no teto!”, confessa. No seu escritório no 18ème arrondissement, Odile trabalha principalmente com arquitetos e engenheiros físicos e ópticos – a maior parte dos iluminadores de formação não tem, segundo ela, uma compreensão justa do espaço. Sua carreira começou no escritório de Jean Nouvel, como organizadora de eventos. Aos poucos se viu encarregada da iluminação de projetos como o The Hotel, desenhado pelo arquiteto francês em Lucerna e inaugurado em 2000. Acabou convencendo o chefe a abrir um departamento só para isso. “Ele sabia que a luz dá volume e sensação aos lugares.” Com Nouvel, envolveu-se ainda em uma iniciativa efêmera usando Corian, material sintético que permite a translucidez.
Mal se lançou em voo solo, em 2007 (ela abriu seu Lumières Studio dois anos depois), ganhou nada menos que o concurso para iluminar a primeira edição da Monumenta, no Grand Palais, no mesmo ano. “Você vai ter de fazer uma iluminação incrível, senão eu me suicido!”, avisou meio sério, meio brincando o artista Anselm Kiefer durante a montagem. Odile criou raios de luz como se fossem estrelas caindo do céu, acompanhando o que dizia o título da obra dramática e monumental do alemão – Falling Stars –, que ficou mais do que satisfeito com o resultado. Depois de ter iluminado uma propriedade no sul da França de um dos maiores power couples de Hollywood, ela vem cogitando apresentar uma edição limitada de luminárias, como o objeto de latão dourado que concebeu para servir de cabeceira em um dos quartos desse casal, projetando um instigante quadro de luz na parede. Ou então uma lâmpada em forma de cristal que produz uma luz parecida com a de uma vela. Sutil como sua autora.
*Matéria publicada em Casa Vogue #354 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)